quarta-feira, 25 de junho de 2008

Carta do marido da Efigénia

Caro Compadre,
O que era bom acabou-se. está na hora das lonas! A tenda já está dependurada no meu "Boguinhas", as traquitanas na bagageira, resta-me dar à chave e rumar até à terrinha onde me espera o torno e a chave de fendas.
Agora que a carteira foi vitima de um truque de mágica, ao jeito de Luís de Matos, ficando sem a tão desejada moeda única, resta-me tornear as dificuldades e ver se desenrosco a minha vida de parafuso.
Quanto ás novidades, compadre, fui esperar a minha mulher Efigénia à estação, que me trouxe um saquito de batatas e um cesto de laranjas. Ainda esperei pelo comboio turístico, mas disseram-me que o presidente mudou agulha antes que a Avic "descarrilasse".
Por outro lado, não resisti ao apelo da câmara "em provar a qualidade das águas" e confesso que achei salgadas e fresquinhas como se fossem tiradas à pressão.
Depois de engolidos alguns "pirolitos" um figueirense com face de areia mijada, com uma barriga de sete meses bem aviados, falou-me noutras águas bem mais saborosas de nascente abandonadas, as termas do Arnaldo, do Fachadas e do Zé da alhada.
Mas quando lhe emprestei o "empalhado" que trouxe aí da nossa aldeia, para uma operação " boca a boca", vi logo compadre, que o tipo tinha curso de socorrismo e era capaz de recuperar o Fernandes Tomaz, há tantos anos na mesma posição à espera de ser promovido a general como os revolucionários de Abril.
É que as nossas águas, compadre, são puras e quentes e não são baptizadas como as do mar por aqueles brincalhões que se descuidam e as transformam em bebida com borbulhas, mais ou menos gasosas.
Há dias na televisão um homem da câmara com uma limpeza detergética veio dizer que a campanha está a ser um êxito pois os hotéis estão quase cheios.
Diz-me o colega bebedor-salvador, que não é difícil arrumar os que procuram essas unidades e que as casa em Buarcos têm mais letreiros de aluguer que as vitrinas do Jumbo e do Lidl juntas.
Só aos fins de semana, compadre, é que isto anima, com os doutores de Coimbra que têm cá as casa fechadas durante todo o ano, a invadir a praia.
Mas a malta da "lancheira" e das auto caravanas continua a ter lugar na praia. Agente, os pobretes vamos roendo a perna de frango até ao osso, enquanto os médicos e advogados vão chuchando nas sapateiras e as santolas nos bares da avenida.
Resta-nos a consolação compadre, que somos nós que bebemos o puro sumo da uva sem corantes nem conservantes.
Há dias, um tipo que percebi, ser empregado do Casino e engolia um "corneto" desabafava a um amigo que o jogo está pela hora da morte.
Que os ricos estão tesos, que as gorjetas estão baixas, que a roleta desliza com poucas apostas.
Por este andar, compadre, o Casino vai adoptar o chinquilho, o sete e meio, o dómino, a sueca e a bisca lambida.
A crise está a ser democrática, trinta e quatro anos depois, cumprindo-se a máxima diferentes mas iguais. Ou seja uns continuam a "branquear" as dificuldades e nós continuamos com a vida negra.
Deixo a minha Efigénia para vos dar noticias com a esperança que esteja atenta ás boas novas. porque as más que as leve o vento que por aqui assobia sem cerimonias como árbitro-sinaleiro.

Um abraço cá do compadre Paulino